Cidades Sustentáveis

Como as empresas podem contribuir para uma cidade sustentável?

No último painel do Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Cidades, debatedores relatam iniciativas e Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social é lembrado como exemplo de participação empresarial

Por Airton Goes, do Programa Cidades Sustentáveis

 

Realizado neste domingo (10/7), o último painel do 1º Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Cidades colocou em pauta o tema “Como as empresas podem contribuir para uma cidade sustentável?”, que está relacionado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 17 – Parcerias e meios de implementação.

A necessidade de uma coordenação entre governo, sociedade civil organizada e setor privado foi um dos pontos enfatizados no debate, em que os participantes relataram iniciativas bem-sucedidas de parceria e apresentaram propostas para ampliar o envolvimento empresarial na discussão e colocação em prática de políticas públicas que visem o bem comum e a redução das desigualdades.

Um dos exemplos citados no painel foi o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, criado em maio de 2003, no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula, e extinto oficialmente em 2019.

“O conselho, criado na assessoria da Presidência da República, com aproximadamente 100 empresas, em que debates e contribuições para as políticas públicas aconteciam de fato, sem interesses corporativos”, lembrou Patricia Audi, vice-presidente executiva do Banco Santander no Brasil, uma das participantes do painel, ao ser questionada sobre a possibilidade de as empresas contribuírem mais para influenciar as políticas públicas que visem o interesse coletivo.

Segundo ela, que integrou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, “ali era um ambiente democrático, em que essa discussão se dava”. Em sua avaliação esse tipo de conselho precisa existir, “para que as empresas sintam que há um fórum adequado para as suas contribuições e possam influenciar as políticas públicas”.

Patricia entende que os grandes problemas dos países e do mundo não passam por uma solução com um único protagonista. “Meio ambiente, mobilidade, questões de inclusão e de desigualdade necessitam de uma coordenação entre governo, sociedade civil organizada e setor privado”, defendeu.

Ela acredita que durante a pandemia da covid houve um “despertar”, principalmente das empresas, para essas questões.

Em relação a iniciativas patrocinadas pelo banco que contribuem positivamente para a qualidade vida em São Paulo, a vice-presidente mencionou os projetos de despoluição do Rio Pinheiros e de recuperação de seu entorno, a partir da ciclovia e do Parque Bruno Covas, além do centro cultural do banco – Farol Santander – instalado na região central da cidade.

Ela apontou ainda outra iniciativa empresarial para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Trata-se de um pacto em defesa da Amazônia, que, em 2020, uniu os três maiores bancos do país, além do Santander, o Bradesco e Itaú.

Mediado por Cássio França, secretário-geral do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, o painel contou também com a participação de Wolf Kos, presidente do Instituto Olga Kos, organização que atua para a inclusão de pessoas com deficiência.

Kos relatou o histórico e algumas atividades desempenhadas pelo instituto, bem como a metodologia e as métricas utilizadas para alcançar sucesso nos objetivos.

Outro integrante do painel, o diretor da Ambipar, Gabriel Domingos, citou o índice de sustentabilidade existente na Bolsa de Valores de Nova Iorque, como exemplo de contribuição empresarial que poderia ser replicado. “As pessoas que estão comprando as ações, os investidores que estão colocando dinheiro nisso querem saber o que está sendo feito, qual a parcela de representatividade de mulheres nos conselhos, de jovens e das minorias”, argumentou.

Ele avalia que o próprio mercado vai regular e valorizar o índice de sustentabilidade das empresas. “Acho que daqui para frente, esse é um caminho sem volta”, considerou

Domingos registrou ainda o caso de Cubatão (SP), que durante anos ficou conhecida mundialmente como a “cidade da poluição”. Ele contou que, depois, através de um trabalho da sociedade civil, do Ministério Público e das industrias, o município conseguiu o selo concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU), como cidade símbolo de recuperação ambiental. “Esse é um ‘case’ brasileiro”, concluiu.

Michel Farah, fundador da Farah Service, por sua vez, levou uma sugestão para o painel. “Queria introduzir nesse fórum os três “As”, que a gente começa a empregar na Farah Service e significam Amizade, Alegria e Amor”, iniciou, para em seguida complementar: “isso transforma, isso que vai mudar [a realidade]”.

De acordo com ele, a Farah Service foi a primeira empresa a celebrar um termo de cooperação com a cidade de São Paulo. “Nossa empresa busca fazer dois tipos de projetos, que a gente chama de propósitos: o que melhora a qualidade de vida e o que facilita o dia a dia”, afirmou, detalhando na sequência: “o que melhora a qualidade de vida é você plantar uma árvore, já colocar um banco numa praça facilita o dia a dia”.

 

Defesa da democracia

Antes de encerrar o debate, o mediador Cássio França, enfatizou que o GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, organização da qual é secretário-geral, este ano tem como centro de seu planejamento a defesa da democracia.

“Institutos, fundações e Empresas precisam valorizar a democracia, ampliar suas capacidades, para termos um país mais democrático”, conclamou França.

Para que o objetivo se torne mais palpável para as pessoas, explicou ele, o GIFE traduziu a defesa da democracia em quatro eixos:

  1. Reduzir a pobreza no país, pois a desigualdade é uma questão central. Institutos, fundações e empresas precisam olhar para essa questão, para além de sua agenda setorial;
  2. Promover a equidade racial, contemplar a diversidade e incluir as pessoas com deficiência;
  3. Defender a justiça ambiental, a justiça climática, pois os que estão em situação vulnerável são os mais afetados;
  4. Fortalecer as organizações da sociedade civil.

 

Encerramento do fórum

Coube a Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis – organização promotora do Programa Cidades Sustentáveis e da Rede Nossa São Paulo – fazer o encerramento do 1º Fórum de Desenvolvimento Sustentável das Cidades.

“Nós tentamos nesse fórum, que é o primeiro, abarcar os grandes temas que nos provocam como sociedade”, declarou ele, detalhando que ao longo dos três dias do evento foram debatidas questões sociais, ambientais e relacionadas à democracia.

Segundo Abrahão, todos os atores da sociedade, de alguma maneira, participaram das atividades. “Estiveram aqui prefeitos do Brasil inteiro discutindo, entidades parceiras da sociedade civil dialogando e agora fechamos com esse painel em relação ao papel das empresas”, relatou.

O coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis, entidade que promoveu o fórum, registrou também que durante o evento foi lançado um guia para a segurança das cidades, “para que os municípios tenham uma cultura de paz”, e o novo Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades do Brasil (IDSC-BR).

“Esse [o IDSC-BR] é um trabalho inédito globalmente, pois não existe nenhum país do mundo que consiga acompanha todas as suas cidades na Agenda 2030 e nos 17 ODS”, informou, antes de complementar: “o índice que lançamos aqui está fazendo com que o Brasil seja o primeiro a poder monitorar todos os seus 5.570 municípios”.

Por fim, ele acrescentou que o novo IDSC-BR traz um ranking de ODS das cidades brasileiras, “não com o objetivo de competir, mas de estimular para que elas avancem, para que entreguem melhor qualidade de vida”.